quinta-feira, junho 24

Erfume(P) pela manhã


Todas as manhãs que te aproximas o meu pensamento regressa ao passado, ancora os meus sentimentos longe de terra e faz-me derivar nas saudades que tenho.

Sempre que inicio essa viagem chego à conclusão que não quero voltar a porto, pois parti com a minha metade e deixei-te com as tuas. Até que acordo de uma ilusão e que só me resta o perfume pela manhã, essência que no meu consciente só a uma alma pertence.

Todas as noites perco-me nas luzes das festas e só por um simples momento em que essa essência embrulha o meu corpo, eternidades na minha cabeça ecoam em segundos e sussurrando a uma só voz – apaixona-te de novo.

E todos os dias que sinto-te por perto, esse perfume que me persegue, impinge-me acções que não seu medir, e quedas e merdas e cicatrizes aparecem por todo o meu ser, vitima de uma droga que todos os dias me atormenta. Como é possível significares tanto para mim?




quinta-feira, junho 3

Almas gémeas, blue eyes...

Por causa das manias das almas gémeas é que ainda estou apaixonado por , Maria Cecília, depois de tantos anos de silencio e separação, de espera e de abnegação e, te confesso, de uma tristeza que aos poucos foi sendo substituída por uma doce e serena melancolia à qual me habituei como uma segunda pele e sem a qual agora já seria um homem infeliz.

A vida tem destas coisa, está sempre a indica-nos vários caminhos ao mesmo tempo e ás tantas uma pessoa confunde-se, hesita, volta atrás, troca o tempo e o passo e quando dá por isso, zut, a oportunidade passou-nos ao lado e não vale a pena correr atrás dela, porque a vida vai sempre muito mais à frente do que nós pensamos, cada dia é uma nova dimensão que nos parece sempre a mesma e o tempo voa muito mais depressa que o nosso coração, por isso nem o vemos passar e quando reparamos nos cabelos brancos e começamos a afastar dos olhas as listas dos restaurantes para escolher entre o bacalhau e o lombo assado é que nos apercebemos do todo o tempo que já passou. Mas isso é só para nós, porque aqueles que amamos estão sempre na mesma e como vivemos dentro deles e mergulhamos pelos olhos que vemos, passem meses, anos ou décadas. Deve ser por isso que quando me cruzei contigo na subida da Garret, te vi com vinte e tal anos, antes de partires para Paris, antes de te casares com o meu primo Francisco que tinha bom porte, melhores modos e uma ambição desmedida que o levaria ao topo da carreira. E foi assim que te perdi, por incompetência ou timidez, eu que era o primo doido, o pintor surrealista que se distraia horas a desenhar ratos e rãs com chapéus de palha, que lia o Buñuel e praquejava contra o regime e que por isso mesmo nunca arranjei nenhum tacho, muito menos uma carreira como o Francisco, o menino bonito, formado em Direito com 17 que era o orgulho da família. Eu tinha a sensação que o Francisco nunca falava contigo nem de livros nem de musica , nhem de nada que aquecesse o coração, mas era só uma impressão, afinal parecias feliz, convencida do teu papel de futura embaixatriz, sempre muito bem penteada, com uma bandelette que te deixava a testa e os olhos desenhados com grande nitidez e eu queria sempre mergulhar neles para te ouvir melhor, porque já sabia, embora nem quisesse pensar nisso, que te amava e que fazias parte de mim.

A vida é um eterno regresso a casa, vai dando voltas e voltas até nos pôr à frente aquilo que mais amamos ou tememos – e que é afinal tantas vezes a mesma coisa e foi assim que te voltei a encontrar, já sem bandelette, mas com a mesma testa e os mesmos olhos e vê la tu que me apeteceu logo mergulhar outra vez, porque como tudo se repete, também o amor sofre deste triste infurtúnio, vai e vem muitas vezes no mesmo olhar e nunca morre, mesmo quando o tempo passa e nos trás outras vidas.

O Francisco morreu há três anos, viveste no mundo inteiro, tens três filhos criados e uma casa na Lapa, contaste-me tudo na esplanada da Brasileira com o poeta esquizofrénico a beber as tuas palavras mesmo ali ao lado e pareceste-me mais velha, mais magra mas sempre bonita e foi como regresar outra vez a casa, depois de tantos anos de uma solidão povoada que nunca mais consegui matar.

Devia ter-te declarado o meu amor quando ainda usavas a bandelette e ignorar a sombra do Frtancisco, devia ter desafiado o destino e acreditado que te poderias apaixonar por um pintor pobre e trapalhão, mas tive medo, Maria Cecília, e não segui o caminho certo, havia demasiadas setas. Agora estás viúva, eu estou separado e o que me prende à vida está nas telas e nos livros dos outros, mas talvez ainda vá a tempo de encontrar o caminho que me leve a ti e descubra finalmente se és ou não a minha alma gémea.

Tinha que o colocar, já o tinha guardado desde domingo, não este que acabou de passar, mas sim aquele do dia 21 de Abril de 2002. Obrigado "mpr" pelas pequenas coisas que vais escrevendo e eu vou lendo. Se existem histórias com amor que acabem bem, que uma delas seja a minha, pois ela já começou à muito tempo. 12/06/2009


03/06/2010


Hoje estou no Porto, tirando o curso para hospedeiro de vôo. Será que vou conseguir? Hoje quero por um post, então como falta de inspiração e com rascunhos por aqui, lá estou eu a enfiar mais um :P