terça-feira, agosto 4

sim, aceito - 1

Ele não acreditava que era amanhã o dia. Acorda cedo para se arranjar, a hora está a chegar. Vai ser o seu dia de casamento, e sabe que vai decidir a sua vida como nunca o tinha feito antes, que basta escolher a palavra para mudar o seu curso, as suas rotinas que já estava farto. Alto, de corpo seco, o cabelo sempre rapado e maçãs no rosto mais um pouco acentuadas, António sempre foi um rapaz introvertido, nunca se metia em confusões desde pequeno, mas sabia dizer o certo no momento certo.

Vai ser a sua ultima noite na casa dos seus pais. Longe da cidade, a quinta onde fora até agora o seu lar era enorme, os olhos perdiam-se à procura do fim dela, o rio que separava a próxima quinta. A casa, enorme com três andares de madeira bem escura, com um alpendre onde António passava quase todo o seu tempo quando não via televisão. Era numa rede que se encontrava no alpendre que a sua imaginação voava conforme o livro que tivesse a ler, onde a sua mente batalhava contra as matérias para o exame, onde sonhava com os seus futuros se tivesse feito diferentes escolhas no seu passado. Deitava-se, admirando a pequena estrada que ia até ao portão principal, cheia de arbustos e pequenas estátuas, anões que quando mais novo faziam parte das brincadeiras imaginárias juntamente com os seus primos e irmãos. Estava a chegar o calor depois das chuvas de Abril, e a relva em todo o lado era fresca e bonita, os dias já eram maiores e só apetecia ficar deitado nela. Atrás da casa tinha dois estábulos, um pequeno e um bem maior em que seu pai, que vivia dos rendimentos que a quinta produzia, começou a ter tempo para se dedicar aos cavalos que passou a ser a sua paixão, António desde pequeno que queria ter um e afinal quem passou mais a gostar deles foi o pai. A mãe, sempre fora uma mulher da casa. Ia só à cidade para ter com as amigas ou fazer as compras e ver as montras, sempre cuidou da casa e dos filhos. Ao todo, António tinha mais 2 irmãos e uma irmã.

Hoje ele pediu ajuda à irmã para arrumar as malas, pois do casamento seguiria viagem para o Dubai. No meio das arrumações, a irmã (com quem teve sempre uma ligação especial e diferente do que com os outros 2 irmãos, fora sempre a sua melhor amiga, talvez pelo facto de serem irmãos gémeos e passarem quase o tempo todo juntos, fosse na escola ou fora delas), ia revendo o passado que ambos tiveram ao arrumar as tralhas dele, riam, emocionavam, perguntavam pelas pessoas do passado...
-"Ó besta canina, então convidas-te a Mónica ao casamento? E não me querias dizer nada? Ela foi a minha melhor amiga no secundário e tua namorada!" - Maldita a hora em que pediu à irmã ajuda, pensava ele. Agora está com as molduras que têm fotos da adolescência deles -"Sabes, és mesmo um cromo. Tu e ela podiam ser também felizes, não fosse a parvoíce que vocês decidiram"
-"Olha, e que tal esqueceres isso? O que foi, foi, e eu estou bem com a Bekas. É ela a tal para mim, agora, neste presente. E será sempre ela. Agora vens ai com essa história..."
-"Pois, quem não te conheça que te compre. Sei perfeitamente que não morres de amores por ela, passou muito tempo, mas ainda tens aquele bichinho..."
-"Deixa de ser parva. Pois, isso é missão impossível, deixares de ser parva, mas faz o esforço. E além do mais, eu até vou sair com ela hoje à tarde, um último café antes da última noite de solteiro."
-"Pois já estou mesmo a ver...se a Bekas sabe..."
-"Já passou muito tempo, e ambos avançámos na vida, ou tu não entendes isso? Aliás, a Bekas não se preocupa com isso e nem precisa!"
-"Claro que entendo! Faz o que quiseres..."

Já arrumou as malas, guardou as fotos do seu passado. Guardou sem nunca esquecer...


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